De uma coisa tenho certeza: a gente amadurece com as merdas que acontecem. Ao acordar com os olhos inchados e ardendo, uma puta dor de cabeça, o sol batendo na janela... e perceber que ser forte não é uma opção, é a única saída. Na verdade, é exatamente no momento em que apoiamos no chão e com força conseguimos levantar. Assim enfim enxergamos... os sentimentos, as pessoas ao nosso redor, o que é felicidade, o que é dor, o que queremos e o que não podemos ser. É nessa hora que aqueles que dão o abraço mais apertado - nem precisam falar nada - são dígnos de gratidão eterna. Culpa da sensibilidade à flor da pele.
Anos de cenas ruins vivenciadas com uma constância desesperadora. Assistindo ao sofrimento de uma pessoa amada demais, daquele que era intocável, forte, lutador. E que iria me livrar de todas as amarguras e me salvar dos momentos mais confusos da vida. Nada fácil. E não me venha com o usual 'pelo menos assim você foi se preparando'. Não existe preparação para a perda. Apenas dói e ponto. E quanto mais tortura, mais tempo de dor.
Ele sabia que iria embora. Alertou meu irmão de que ele seria o homem da família. Fez uma listagem de seguros, com contatos e senhas. E foi no dia em que ele partiu que encontramos esta lista... Pra esmagar o coração e os pulmões ainda mais um pouco. Chorei. Até me sentir anestesiada.
Na manhã seguinte, sol ardido, a última despedida. As flores davam a certeza de que seria mesmo a última. A pior visão, o pior sentimento, o pior tinha chegado. Nada se compararia àquela falta de ar e à boca trêmula. A partir dali, uma vida em que sempre estaria faltando alguém. Um dos abraços mais apertados - dos que citei acima - foi de um alguém que me disse apenas 'vai passar, eu juro'. Foi desse juramento que tirei forças pra continuar sem parar, sem balançar. Apenas olhei pra frente, mirei um objetivo e fui andando em linha reta, com calma e responsabilidade. Com olhar fixo. Acabou dando tudo certo, às vezes com uns cruzamentos movimentados, uns atropelamentos no caminho, algumas coisas que me tiraram da estrada reta, mas deu tudo certo. E a dor passou. Deixou a saudade, uns traumas, um sentimento de solidão que tende a aparecer sob qualquer angústia, mas o esmagamento do coração teve fim.
Passei por tudo de novo. Dessa vez como coadjuvante. Foi quase tão doído quanto. Novamente não pude fugir de ver uma pessoa amada sofrendo. Ele fazia o meu papel na história. Conhecendo o final da trama, eu soluçava em lágrimas antecipadamente. Sabia o que ele estava passando, o que estava pensando. Podia ver seu coração ser esmagado e a sua tentativa de fazer a boca parar de tremer, a mão deixar de gelar. Apenas jurei que vai passar. E lhe dei um abraço apertado.
Dessa vez, os olhos fixos serão quatro. Focando o mesmo objetivo. Vamos andar juntos numa nova linha reta, sem balançar, sem parar. Minha força será a força dele, eu sei. E vai passar. E tudo vai dar certo. Em nossas vidas, o lutador que nos livraria das amarguras irá faltar. Mas nos tornaremos fortes e amadurecidos. Salvaremos um ao outro dos momentos mais confusos dessa caminhada.
Obrigado pelo abraço, nunca esquecerei... e a promessa... vai continuar pra sempre sendo mantida.
ResponderExcluirTe amo pra sempre!!!
Lindo o texto e seu gesto. Só quem passou por isso sabe. E numa coisa vc tem razão, não existe preparação, apenas dói. Não tem a que doa mais: a inesperada ou a por demais esperada. A hora do adeus é algo inexplicável.
ResponderExcluirMas a dor que parece infinita passa.
Espero que fiquem bem logo, pq a vida segue ;)
Abraço apertado!
E assim começa a preparação para as perdas, mas sempre ficam ensinamentos e recordações que fazem parte de nossa história.
ResponderExcluirAh o amor...na vida existem diversos tipos de amor.
Um abraço apertado a vc que é um de meus amores!
Obrigada, Lica! Sempre me entendendo. Sendo (quase) a única a me entender de verdade!
ResponderExcluirMãe... vc é meu amor maior.
Nossa!
ResponderExcluirmeu olho encheu de água.
Mta força e mta luz pra vocês!
um abraço beeeeem forte!
Obrigada Gisóca! Saudades de vc!
ResponderExcluirFaço dele as minhas palavras nesse momento.
ResponderExcluirO haver
Resta, acima de tudo, essa capacidade de ternura
Essa intimidade perfeita com o silêncio
Resta essa voz íntima pedindo perdão por tudo
– Perdoai-os! porque eles não têm culpa de ter nascido...
Resta esse antigo respeito pela noite, esse falar baixo
Essa mão que tateia antes de ter, esse medo
De ferir tocando, essa forte mão de homem
Cheia de mansidão para com tudo quanto existe.
Resta essa imobilidade, essa economia de gestos
Essa inércia cada vez maior diante do Infinito
Essa gagueira infantil de quem quer exprimir o inexprimível
Essa irredutível recusa à poesia não vivida.
Resta essa comunhão com os sons, esse sentimento
Da matéria em repouso, essa angústia da simultaneidade
Do tempo, essa lenta decomposição poética
Em busca de uma só vida, uma só morte, um só Vinicius.
Resta esse coração queimando como um círio
Numa catedral em ruínas, essa tristeza
Diante do cotidiano; ou essa súbita alegria
Ao ouvir passos na noite que se perdem sem história...
Resta essa vontade de chorar diante da beleza
Essa cólera em face da injustiça e do mal-entendido
Essa imensa piedade de si mesmo, essa imensa
Piedade de si mesmo e de sua força inútil.
Resta esse sentimento de infância subitamente desentranhado
De pequenos absurdos, essa capacidade
De rir à toa, esse ridículo desejo de ser útil
E essa coragem para comprometer-se sem necessidade.
Resta essa distração, essa disponibilidade, essa vagueza
De quem sabe que tudo já foi como será no vir-a-ser
E ao mesmo tempo essa vontade de servir, essa
Contemporaneidade com o amanhã dos que não tiveram ontem nem hoje.
Resta essa faculdade incoercível de sonhar
De transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidade
De aceitá-la tal como é, e essa visão
Ampla dos acontecimentos, e essa impressionante
E desnecessária presciência, e essa memória anterior
De mundos inexistentes, e esse heroísmo
Estático, e essa pequenina luz indecifrável
A que às vezes os poetas dão o nome de esperança.
Resta esse desejo de sentir-se igual a todos
De refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memória
Resta essa pobreza intrínseca, essa vaidade
De não querer ser príncipe senão do seu reino.
Resta esse diálogo cotidiano com a morte, essa curiosidade
Pelo momento a vir, quando, apressada
Ela virá me entreabrir a porta como uma velha amante
Mas recuará em véus ao ver-me junto à bem-amada...
Resta esse constante esforço para caminhar dentro do labirinto
Esse eterno levantar-se depois de cada queda
Essa busca de equilíbrio no fio da navalha
Essa terrível coragem diante do grande medo, e esse medo
Infantil de ter pequenas coragens.
Vinícius de Moraes
Ai, Vinícius!
ResponderExcluirOlá, Fabiola !
ResponderExcluirComo eu havia dito anteriormente, eu gostei muito do seu "diário virtual", ou melhor, blog (rs).
Quando eu digo "diário virtual", eu me refiro ao formato do seu espaço. Embora eu o freqüente há pouco tempo, já pude perceber que seus posts são embasados em experiências empíricas, práticas, ou seja, a protagonista de suas histórias sempre é você, isso que é legal. Ademais, os relatos que figuram o blog são bem fies à realidade, todos nós estamos fadados a vivenciar o conteúdo dos seus textos, e o mais legal de tudo é que tu sempre dá a solução no final de cada episódio. Pode parecer exagero, mas - a grosso modo - eu diria que seu blog é um "guia-do-dia" (rs) ; MUITO BOM !
É isso aí, Fabiola.
PARABÉNS !
ATÉ O PRÓXIMO POST !
RENATO EDUARDO.
Amei seu comentário, Renato! Mto obrigada pelos elogios! É bom 'ser lida'!!!
ResponderExcluirBeijo!