terça-feira, 18 de maio de 2010

Cont. Diário de uma repórter

O mês já passou da metade. E não é que o Marley me fez aprender a ser rápida e segura? Olha que ironia... agora somos amigos. E morremos de rir durante as tardes que passamos juntos. Acho que ele vai sentir saudades de mim. E eu dele.
Ainda não tenho certeza do que quero, se realmente é ser repórter de TV, mas acho que nunca saberei totalmente. Essa é a graça. Vamos seguindo...

terça-feira, 11 de maio de 2010

Diário de uma repórter - A peregrinação frenética assombrada por Marley

Sou jornalista de TV há quatro anos. Comecei na rádio-escuta, passei pra estagiária do Repórter Record e hoje sou produtora do Câmera Record. Na produção de reportagens, em cima de cada pauta, me aprofundo, entendo, questiono, entrevisto... Tudo por telefone ou internet. É muito raro eu conhecer um personagem meu. Sei de toda a sua história, mas não o conheço. Isso frustra uma pessoinha atentada como eu, que não consegue ficar parada. Resumindo, a produção me fez ter vontade de ser repórter.
Sei que é difícil de acreditar, mas não é por vaidade ou vontade de aparecer. É pelos motivos acima, somados à incentivos. Incentivos mil, indicação zero. Há quase dois anos mostro interesse até por mímicas, me dedico a aprender, treinar, fazer cursos, montar portfólio. E nada!
Há umas semanas fui indicada por um amigo para cobrir férias do repórter da Rede Família, em Campinas. Concorri com outras meninas, fiz teste e passei. Não pensei duas vezes ao dizer sim e correr pra negociar com meu chefe de SP sobre horários para uma jornada dupla. Deu tudo certo. Comecei na semana passada.
Agora acordo às 5:30, faço escova e chapinha todo santo dia, pela primeira vez na vida estou terminando um rímel, minhas panturrilhas doem por causa do salto também diário, almoço ao meio dia e meia e janto por volta das dez. Nada de refeições intermediárias. Dirijo 200km por dia. Na volta de Campinas, rezo pra não dormir ao volante. Abro os vidros do carro, aumento o som do rádio. Pela manhã, resolvo problemas da minha equipe que está no Pantanal, termino a produção de um amigo que foi pra essa viagem, inicio uma nova produção. À tarde, faço no mínimo uma matéria. Entrevisto, gravo passagem, escrevo o texto, gravo o texto, acompanho a edição.
Dia 1
Vesti camisa nova. A mais bonita. Com frio na barriga, peguei minha primeira pauta. Sem foco completamente definido, tive que ler umas três vezes. Era sobre um censo do uso de bibliotecas públicas. Tive ideias bem legais. Enquanto isso, o cinegrafista - que vou chamar de Marley - pegou um balde de água fria que ele levava no bolso e jogou na minha cabeça: "deixa eu te explicar. Aqui a gente faz tudo rapidinho, sem muita coisa".
Dia 2
Próximo ao dia das mães, minha primeira pauta da tarde foi sobre a correria pra comprar o presente. Enquanto eu fazia um povo-fala (e prestem atenção para a palavra 'povo'), o Marley disse: "grava com uma pessoa só e vamos embora". Minha passagem entrou no jornal com uns 600 mil fios do meu cabelo tapando a minha cara. Dessa pauta, partimos pra uma mostra de decoração. Lá, o Marley foi meu treinador... Esportivo. Faltou cronometrar cada coisinha que eu fazia, me acelerando pra eu melhorar minha marca. Fomos embora sem completar a matéria.
Dia 3
A pauta mais consistente da semana chegara: por conta da epidemia de dengue na região, a secretaria de saúde armou um mutirão e contava com a ajuda do exército pra eliminar focos do mosquito. Depois da resposta da secretária à minha segunda pergunta, o Marley desligou a câmera - estava cansado de segurá-la no ombro. O fiz religar. Ele ficou nervosinho. Eu voltei pra casa chorando. Uma soma de TPM com nervosismo e frustração.
Dia 4
Coletiva do rei Pelé. Marley estava de bom humor, mas talvez porque eu estivesse cansada. As sintonias quase se bateram. Ele me ajudou a encontrar uma luz boa pra passagem e me deu alguns toques de entonação. Jantamos juntos e eu voltei pra casa aliviada.
Dia 5
Fazia muito calor, já era sexta, e eu não tive tempo de almoçar. Fomos gravar o desfecho sobre o rodeio de Jaguariuna. Novamente minha sintonia e a do Marley estavam quase no mesmo nível. Eu morta, ele... Um morto.
No sábado trabalhei também, em SP. Externa dos Mamonas com o Gerson. Domingo com a mami e com a sogra.
Dia 6
Começa a semana de conciliação do TRT. Essa era a pauta. No meeeio da conciliação, o assessor deixou que eu gravasse uma passagem, mas falando baixinho, pra respeitar as partes e o desembargador. Fiquei tensa com a responsa e a falta de prática em falar baixinho no tribunal (graças). Como se não bastasse, ao meu primeiro erro, o Marley desligou a câmera e pediu que eu avisasse quando estivesse 'pronta'. Discutimos. Muito.
Continua...