sábado, 21 de novembro de 2009

Dente-de-leão


"500 dias com ela". Doce.

Logo no comecinho, me arrepiei com a tela dividida contando a história de Tom e Summer, mostrando vídeos de infância, e - em um dos quadros - o sopro de Summer numa daquelas flores de soprar (sabe?) se transforma nas bolhinhas de sabão de Tom. Sensível.
Eles se conhecem. No trabalho.
Se apaixonam. Num karaokê.
Ela sugere o primeiro beijo.
Na cama dela, eles se conhecem fazendo perguntas um ao outro, como 'campo ou praia?', 'qual sua cor favorita?'.
Ela não queria um relacionamento. Ele queria namorar.
Eles brigam e perdem o controle. Mas se arrependem e pedem desculpas.
Ela não sabe muito bem o que quer. Ele sabe.
Se amam num dia, se odeiam em outro.
Tom ama a risada de Summer, mas odeia o barulho que faz antes de sorrir. Ama o jeito como lambe os lábios, mas odeia que o faça antes de falar.
"Este filme é uma ficção. Qualquer semelhança aos personagens é mera coinscidência."
Só espero que eu possa ser Summer, Autumn, Spring e até Winter...

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Bora bebemorar os 25 aninhos!


Homenagem

Ontem acordei com o celular. Um amigo que ligava pra avisar que meu ex-chefe havia morrido. Como eu era uma das poucas pessoas que tinham amizade com aquele velhinho antiquado e ranzinza, recebi vários avisos da morte dele. Pena que nenhum antes do horário do enterro ou da missa. Na hora confesso que até chorei, por não ter conseguido me despedir. Depois me indignei pelo motivo da morte: acidente de carro. E só então me consolei... ao pensar que ele era sozinho (não deixou quase ninguém, apenas irmãs).

Hoje recebi pelo correio interno o texto que segue, escrito por Adriana Freitas:

"Parece uma cena de filme, daquelas que nos levam a parar para pensar na vida 'real' por alguns instantes. O conflito: um personagem que é parte do cenário e, de repente, desaparece. Aí todos começam a se perguntar quem era aquele porteiro por quem passavam todos os dias sem reparar; quem era aquela secretária que dava conta do serviço mas nunca foi lembrada nas oportunidades de promoção; quem era aquela vizinha que varria a calçada todos os dias até o dia em que as folhas a venceram... Afinal, quem era o Aldahyr Ramos??? Confesso que pra mim era um cara estranho. Nunca soube defini-lo muito bem. Mas também nunca ocupei muito meu tempo tentando. Sei que ele era um cara extremamente formal no jeito de falar e agir, mas que amava Beatles, usava camisetas do Abbey Road e pintava o cabelo, aliás, o que era engraçado. Sei também ele era um caçador de assuntos. Mas não me lembro nunca de tê-lo visto reclamando de trabalhar demais, de trocar de horário, de mudanças de chefia ou de qualquer outro assunto cotidiano. No fundo, mais parecia que ele não pertencia a esse mundo, e todos hão de concordar comigo nisso... E provavelmente ele não pertencia mesmo. Há duas semanas, depois que terminou o JR, ele me chamou. Disse que sabia que eu gostava de gatos e que queria me mostrar uma coisa. Houve um incêndio em uma pensão no centro de São Paulo. E os bombeiros resgataram três gatinhos intoxicados e meio chamuscados. O motolink enviado pelo Aldahyr flagrou os bombeiros limpando os bichanos e fazendo massagem no peito deles, que começaram a miar assustados depois de perder seis das sete vidas ainda bebês. O Aldahyr enlouqueceu com a imagem. Visivelmente emocionado, disse que era linda, que valia matéria 'com certeza'. Que tínhamos que começar a dar mais valor para essas histórias de vida. Vimos a fita umas quatro vezes antes de eu ir embora... Desci as escadas pensando que eu não sabia de fato quem era meu colega de trabalho. Daquele dia em diante, ao contrário de antes, decidi que daria atenção ao 'caçador de assuntos'. Na correria, lamentavelmente, foi muito pouco tempo... Mas descobri um cara inteligentíssimo, extremamente culto e até engraçado. E mais do que isso: um ser h-u-m-a-n-o, na tradução mais fiel do que a expressão pode significar. Agora, mais do que nunca, sei que ele estava certo... Corremos tanto todos os dias que nem sequer temos tempo de dar atenção ao que há de mais precioso à nossa volta: a vida. Não paramos dois minutos que seja para conhecer as pessoas que passam anos e anos, mais de sete horas por dia, vivendo no mesmo espaço que a gente. Eu nunca soube que o Aldahyr gostava de pescar, nem que tinha irmãs... Hoje, depois dos três minutos de choque inicial pela notícia da morte de 'um entre nós', a redação voltou à rotina. Muito barulho, tvs altas, rádios, telefones tocando e todos correndo. Provavelmente ninguém teve tempo de lembrar que, às 16h, um funcionário não entrou pela porta e não ocupou o lugar do canto da mesa da chefia de reportagem. Uma voz a menos foi ouvida no fechamento, mas na confusão ninguém deve ter notado. Fica a reflexão: o que estamos fazendo com nossa vida?"

Depois de ler esta reflexão de minha colega de trabalho, me sinti orgulhosa. Eu vi, desde meu primeiro dia de trabalho na rádio-escuta, que ele era um 'ser h-u-m-a-n-o', uma pessoa especial, pouco compreendida por tamanha sensibilidade. Eu o conheci, realmente. Soube de sua paixão pelos Beatles, por aviação, por vinhos e por pescaria. Ele também adorava cozinhar e se gabava pelo excelente caldinho verde que fazia! Tinha um rádio-patrulha em casa, de tão fissurado por notícias que era. Morava perto da Pompéia e adora os barzinhos de lá. Abriu há uns dois anos uma pousadinha de pescadores em Cananéia, onde ele queria morar quando se aposentasse. Era divertidíssimo, cheio de histórias pra contar. Um professor excelente. Sempre ouvi ao Aldahyr com muita atenção. Ele me ensinou muito... Sobre a própria rádio-escuta, sobre o jornalismo, sobre a televisão, sobre a vida.

Já passei um dia inteirinho ouvindo ao rádio-patrulha, de fones de ouvido, na frequência da torre de controle do aeroporto, aguardando a confirmação da chegada de George Bush em São Paulo. Para o Aldahyr, aquilo era muito importante. Pra mim também. Pra coordenação de link não foi. A Band deu a notícia primeiro. No dia da queda das obras do metrô Pinheiros, o Aldahyr estava de licença, resolvendo problemas no interior. Eu passei o dia sozinha, atualizando notas o dia inteiro, sem parar. Ele não me deixou na mão... Ficou ao telefone comigo. Assim que eu soube da notícia (antes das outras emissoras), avisei a chefia. Que, novamente, não deu importância. O GloboCop entrou primeiro. Realmente não davam ouvidos àquele senhorzinho introspectivo. Mas ele me ensinou a confiar nele. E eu confiava de olhos fechados. Não entendia, muitas das vezes, o motivo dos pedidos, mas fazia o que ele me indicava. Foi assim que aprendi a ver a notícia em detalhes mais preciosos do que no sensasionalismo.

Realmente, o que estamos fazendo de nossas vidas? Como o fechamento de um jornal consegue abafar tudo, até a morte? Não conhecemos as pessoas com quem trabalhamos, ou nossos vizinhos de prédio... Não temos mais tempo nem de nos importar, de sermos pessoas.

Tive tanta admiração por aquele pescador, que (dá até um nó na garganta) me lembrava meu pai, que cheguei a dar-lhe uma garrafa de vinho. Ou seja, entrei na TV com uma garrafa de bebida alcóolica!!! Mas dessa 'travessura' não me arrependo. Me arrependo de não ter experimentado seu caldinho verde e conhecido sua tão amada pousadinha... Disso sim.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Menos arte

Passei o domingo - de plantão - chorando. De novo com o ar condicionado gelado, sem companhia na redação, dividindo meus soluços com as divisórias. Saí algumas vezes apenas pra colocar o coração no sol... secar as lágrimas. Parecia drama, mas não era não. Misturou o desconhecido com o trauminha e as noites anteriores mal dormidas.

Sim, é só um cachorrinho. Mas fazer o quê? Me apego. Fora a admiração que tenho ao amor incondicional que esses serezinhos sentem. Ter acordado duas madrugadas com as convulsões dele, ao nosso lado na cama, me deixaram tão preocupada. Estava ao nosso lado porque estava com medo e precisava se amparar em alguém que confia. E foi o nosso carinho que fez as convulsões cessarem.

O Artie tem epilepsia. Não tem cura. E os medicamentos são permanentes, pra sempre. Duas vezes ao dia temos essa responsabilidade. Não pode atrasar, pra não correr o risco dos ataques virem. Não pode mais viajar nem ficar muito eufórico. Agora vou me acostumando com o fato e me adaptando à situação. Ele também. Enquanto isso, anda chorão como nunca foi. Carente, não quer ficar sozinho em casa. Anda cortando meu coração.

E nesse meio tempo, imaginei como seria ter um filho. Imaginei o amor que os pais sentem. As preocupações, os medos, os sofrimentos quando um filho é ou está doente. As responsabilidades. Não deve ser fácil não. E o amor deve ser imenso, assim como a apreensão deve ser constante...