sábado, 30 de junho de 2012

Me coloco no colo


Mexi no meu quartinho da bagunça. Levantei o tapete e tudo foi saindo, saindo...
Comecei a arrumação sozinha, digo com orgulho. Tive ajuda em alguns momentos, mas é sozinha que vou terminar de arrumar. (Se é que um dia ainda termino.)
Sabe o que é engraçado? Me vi frágil de início e agora me vejo tão forte. Forte porém exposta, aberta. Tá tudo aberto. E como odeio me expor. Por mais contraditório que isso pareça, já que me exponho o tempo todo.
Agora consigo enxergar quase tudo, como nunca consegui. E isso é desolador, assustador, mas não deixa de ser uma puta conquista. 
O que tava embaixo do tapete num tá na prateleira ainda não, tá é arreganhado na minha frente, gritando, latente. Chega a sangrar. Dói. E muito.
Olho pro meu passado, pros meus erros, acertos, pras minhas escolhas, pros meus eu's - tudo ali no chão - e me entendo. E me coloco no colo.
Me julgo? Sim. Me culpo? Muito, sempre. Me arrependo? Não, porque me entendo. E é quando parece simples algo tão complicado.
É justo precisar tanto. Não é justo varrer o que sobra. Não sou carente; sou carinhosa, sou afetiva, sou expansiva, sou impulsiva, meu sangue corre mais rápido que o normal porque sou vivida, sou guerreira, tenho fibra e seguro muita coisa na unha, no dente, no salto. 
Vai demorar pra colocar o coração na estante. Disso eu sei. Ele escorrega.

quarta-feira, 18 de janeiro de 2012

Verso


Eu vejo poesia no lembrar do passado. E faço força para só lembrar os trechos que rimaram. Como o canto da cigarra anunciando sol para o dia seguinte e a luz dos vagalumes iluminando as asas coloridas e exuberantes das borboletas - todos presos por instantes em um salão de festas de vidro.
Eu vejo poesia em me dar conta do presente. E faço força para só me dar conta dos trechos que rimam. Como a calmaria de ganhar um beijo de boa noite todas as noites, mesmo que algumas nem tão boas sejam.
Eu vejo poesia na amizade. Nos pactos de sangue quando criança, nas promessas mantidas a ferro e fogo, nos perdões e confissões, nas diferenças e cumplicidades. Sem perceber, mantenho só as amizades que rimam. E encaixo uma ou outra, quando vale.
Eu vejo poesia no amor. Mesmo que as palavras não façam sentido e algumas linhas estejam apagadas.